Sábado de sol, feriado preguiçoso em São Paulo. O carro esquecido na rua, desde a segunda-feira. Decido ir de ônibus. Às onze horas, plantado na parada à espera do coletivo, tenho a ideia de passar no escritório para juntar alguns discos e livros que deixei sobre a mesa. Subo no ônibus vazio. Viagem tranquila. Dá tempo de colocar os pensamentos em órbita. Mas não penso em nada. Por que se ausentam as emoções? Elas devem estar longe agora, assim como os moradores dessa cidade, que fogem a cada feriado. “O senhor veio trabalhar hoje?”, me pergunta o porteiro, espantado. “Ele tá certo. É a crise. Não pode dar moleza, não”, comenta o segurança da rua, de bobeira por ali. Cinco minutos depois, desço do nono andar, sacola vermelha a tiracolo, abarrotada de papel. “É melhor trabalhar em casa hoje”, digo ao porteiro, em tom de despedida. Ele não esboça reação. Tinha engatado uma soneca. Saio para a rua sonolenta de uma Vila Madalena adormecida, desejando uma bebida. Só os fortes sobrevivem