HOMEM-PLACA
O homem-placa estava de bobeira no viaduto do Chá, fazendo troça com os amigos, quando outro homem-placa lhe empurrou com força. Viu-se em pleno ar, desabando com placa e tudo rumo ao chão de granito do Anhangabaú. Num ato de desespero, estendeu os braços agarrados às placas e elas inesperadamente o salvaram. Eram como asas, e ele fazia ali, sem querer, seu vôo inaugural de celebridade, assunto principal no noticiário da tevê. Deixou a vida nas ruas e ganhou os ares. Primeiro achou que seria útil no trânsito. Ajudava velhinhas a atravessar a rua, fazia as vezes de ambulância, levava feridos até o hospital. As crianças apontavam: “homem-placa, homem placa”, e se abalavam para acompanhá-lo do chão, ele lá em cima encabulado em seu sonho de quem descobre novas proezas. Depois, mais confiante, voltou-se para missões mais arriscadas. Pairava sobre seqüestros, assaltos e tiroteios, pronto para o rasante salvador. Apenas na madrugada, saudoso de outros tempos, ousava descansar sentado no ant