UM NEGACIONISTA NO CAMINHO*
Ali, na fila do correio, encharcado pelo tédio, eu não conseguia pensar em nada além do gordo esbaforido do supermercado. Não era um gordo qualquer. O homem assinava Herman nas gravações. Mas aquele não era provavelmente seu verdadeiro nome. Percussionista muito talentoso, segundo a avaliação de papai (“tem uma pegada maneira”). Um pouco exibido além da conta, é verdade. Cheio de floreios e afetações. Enfim, Herman ou não, o pau no cu veio andando pelo corredor do supermercado, suando na testa sob uma máscara transparente, daquelas rígidas, de acrílico, o rosto oculto pela montanha de papel higiênico que ele levava nas mãos. Defronte à prateleira de aerossóis, invadida por frascos de álcool gel, o homem finalmente parou. Arremessou ofegante o enorme pacote com três dúzias de rolos finamente perfumados no carrinho de compras sobressalente (o primeiro já estava tomado por mantimentos até a tampa). Em seguida, ergueu a cabeça envolta no acrílico da máscara, e se deparou com meu olhar p