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CARTA AO PAI

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Quis o destino que fosse numa noite de domingo, gélida como os dias de minha infância, no oeste desbravado do Paraná, onde você era uma lenda nos gramados da várzea. Daqueles dias de glória sobraram o andar meio torto, o olhar desconfiado de zagueiro que não gosta de ninguém invadindo sua área. Os domingos lhe pertenciam, havia rituais a serem cumpridos. Poucos podiam desfrutar desses momentos, e lá ia eu, favorecido pelo sangue, a segui-lo pelas ruas do bairro. Cutucando a melancia no mercado, comprando o jornal, acenando a cada esquina. Pois, mesmo reservado e resmungão, era você também uma lenda nas imediações. Todos sabiam de seu itinerário, até mesmo, desconfio, aquele ladrão que o tentou assaltar às cinco da manhã e você –  corajoso e inconsequente – o desarmou e o botou pra correr. Sim, muitos notaram os rituais há tempos abandonados, desde a sua primeira despedida, em março, mas poucos sabiam do seu sofrimento.  Trabalhar e beber a sua cerveja aos domingos, os últimos ví

O BITUCA

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Sumiu o Bituca. No bar do Ceará, onde dava plantão, não foi mais visto. No churrasquinho do Toni Gato, não apareceu mais. Deram falta dele também na birosca do Caquinho, na barraca da dona Iza, até mesmo no mercadinho do China. Desapareceu, virou fumaça, sem deixar vestígio em toda a Aclimação. Juca logo se deu conta da ausência dele. Gostava do Bituca, mas não se podia dizer o mesmo da vizinhança. Aquela mania de só aceitar o cigarro pela metade irritava muita gente. Vinha sorrateiro e interrompia o sujeito naquele finzinho de tragada, pouco antes de a guimba ir ao chão. Porque se o cigarro fosse descartado ele já não servia, tinha que ser dos que ainda resistiam na boca do fumante, como se o Bituca quisesse sorver um pouquinho daquele mesmo prazer efêmero. Cigarro inteiro então, tirado do maço, nem pensar, o Bituca se sentia ofendido. Uma vez ou outra aquele insólito expediente quase lhe valeu uns sopapos, mercê da insistência demonstrada diante dos incautos que não quer