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Mostrando postagens de dezembro, 2023

O DILEMA DA CAIXINHA

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(Publicada em 18.12.08, na Gazeta da Aclimação) Chega o Natal e elas se proliferam – as caixinhas. Grandes, enfeitadas, discretas, diminutas, onipresentes. Estão na portaria do prédio, nos restaurantes, no estacionamento. Quem decide o formato que devem ter? Imagino os funcionários se reunindo para deliberar: este ano vai ser maior, o pessoal está mais generoso. Ou então, provavelmente uma voz mais lúcida recomenda caixinha menor, a crise está aí, difícil ignorar qualquer trocado, pouco sobra para gestos de desprendimento. Será mesmo? A marola da economia estremecendo o espírito do Natal? O fato é que as caixinhas já estão aí, silenciosas, intimidadoras, esperando a nossa manifestação de bom grado. Quase impossível ignorar seu apelo no bar em que tomo café todas as manhãs. O pão na chapa chega no capricho. O caixa sorri com mais intensidade, estimulado pela proximidade da caixinha, bem ali, ao alcance da mão. Daí você, sem perceber, já foi fisgado. Faço uma anotação mental que preci

DISQUE MÃE

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Os irmãos não falam entre si. Usam a mãe como intermediário. Ela gasta uma grana em celular para manter vivo o diálogo da prole. — Fulano não vem. A mulher quer passar o dia com a sogra. — Todo o ano é a mesma coisa. Aquela perua... Quando a atitude é grave, o gesto é digno de reprimenda, a mãe deixa nas entrelinhas seu desacordo. Mas na maioria das vezes ela aquiesce, magnânima: — Deixa ele de fora dessa vez. Dia das mães é todo dia. Mãe é clichê. É porto seguro. Lições de sabedoria. É a consciência de que somos mesquinhos, egoístas, prepotentes. — Traz a cerveja que seu cunhado gosta, vai. Faz um esforço pra agradar dessa vez. Almoço de domingo, a mensalidade da escola dos meninos vencida, presente ordinário guardado às pressas, traição com a vizinha ainda corroendo o casamento que já esmorece, filho que abusa do entorpecente, a matriarca bêbada e depressiva, todos brindam à mãe. Ela sempre tem razão.