DISQUE MÃE
Os irmãos não falam entre si. Usam a mãe como intermediário. Ela gasta uma grana em celular para manter vivo o diálogo da prole.
— Fulano não vem. A mulher quer passar o dia com a sogra.
— Todo o ano é a mesma coisa. Aquela perua...
Quando a atitude é grave, o gesto é digno de reprimenda, a mãe deixa nas entrelinhas seu desacordo. Mas na maioria das vezes ela aquiesce, magnânima:
— Deixa ele de fora dessa vez. Dia das mães é todo dia.
Mãe é clichê. É porto seguro. Lições de sabedoria. É a consciência de que somos mesquinhos, egoístas, prepotentes.
— Traz a cerveja que seu cunhado gosta, vai. Faz um esforço pra agradar dessa vez.
Almoço de domingo, a mensalidade da escola dos meninos vencida, presente ordinário guardado às pressas, traição com a vizinha ainda corroendo o casamento que já esmorece, filho que abusa do entorpecente, a matriarca bêbada e depressiva, todos brindam à mãe.
Ela sempre tem razão.
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