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Mostrando postagens de 2024

PARA LER DE CORAÇÃO ABERTO

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O texto a seguir é o prefácio que escrevi para o livro Cartas Pungentes, do amigo Luiz Antonio Papp, entusiasta do hábito de escrever cartas. Quem já recebeu uma carta pungente, daquelas que te elevam, fazem pensar ou chorar, certamente não se desfez dela. Guardou-a cuidadosamente em algum lugar. Portanto, há milhares de lugares especiais onde repousam escritos que, de alguma forma, transformaram vidas. Cartas célebres acabam virando livros e neles ficam guardadas, esperando serem descobertas por leitores ao longo dos anos. O mais famoso livro que encerra um conjunto de cartas é certamente o Novo Testamento. As chamadas epístolas demandaram anos de criação e são destinadas a várias comunidades da época. Convencionou-se afirmar que o apóstolo Paulo escreveu boa parte delas, mas sabe-se que outros escritores, como Timóteo e Silas, ajudaram o ex-fabricante de tendas a criar os textos que ficariam eternizados nas Escrituras, num espírito colaborativo que, de certo modo, ressoa aqui, n...

AUTOFICÇÃO DE VERDADE I - SEBASTIÕES

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Dizem que ando escrevendo autoficção e alguém já definiu que isso se resume a “mentiras baseadas em fatos reais”. Então vamos lá para alguns fatos reais da minha vida que nem todo mundo sabe. Começando pelo nome. Quem insistiu com o Nelson (nome em desuso hoje) foi minha mãe. Se fosse pela vontade do meu pai, era pra ser Sebastião, nome dos meus dois avôs. A propósito: alguém mais tem “domicílio paterno” como local de nascimento na certidão? Meu nascimento foi mesmo um parto. Meus pais que o digam! Davi Lourenço só foi realizar o sonho de homenagear o velho Bastião com o segundo filho, Marcelo (um acréscimo também de autoria da minha mãe; aliás, o Sebastião Marcelo detesta o primeiro nome ). E é tudo verdade – ou talvez não seja. Se acabei falando mais dos outros do que de mim, são os riscos da autoficção.

UM VERÃO RADIANTE

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Será um verão radiante. Teremos celebrações acaloradas, grandes mesas repletas de comida, brindes aos quais responderemos sem pensar. O abraço pronto para ser deflagrado, lágrimas nos cantos dos olhos que teimaremos em esconder. Dormiremos abraçados a inebriantes lembranças, certos de que, ao despertar, não faltará amor. Teremos virtudes corrompidas, perigosas indulgências. Reputações cairão por terra, amizades serão destroçadas. Mas ainda assim prevalecerá o amor. E haverá gestos mesquinhos, ressentimentos familiares, mais uma briga com o vizinho, a recusa de uma esmola. E mesmo que não seja evidente, haverá amor. A mulher descobrirá que nutre o mais profundo desprezo pelo marido, enquanto ele leva pelo braço a criança embevecida até o mar. Contudo, ao ritmo das ondas que lamberão seus pés, não faltará amor. Alguém cometerá um crime hediondo, logo estampado com gosto nas capas dos jornais. Então homens e mulheres, cheios de rancor, clamarão por vingança e justiça cega para o a...