NUMA ESQUINA DO BIXIGA

Sábado, tarde ensolarada. Tempo bom para correspondências. Quem escreve cartas hoje em dia? Eu vi a mesmice do mundo, ela começa numa sórdida esquina do Bixiga. Quanta beleza e imperfeição. Perdição, o mundo está carente de perdição. E quem precisa de mais feriados? Eu não. Eu escrevo. Animal em extinção. O maior escritor do Brasil é um loser. Aos sábados, ele engole uma feijoada e vai dormir. Mas ele logo retorna. Resiste. Literatura é sina, maldição. Tragam-lhe mais um copo de vinho, coloquem a cerveja no refrigerador. Vamos brindar ao enfant terrible. Aos órfãos das letras. Aos parceiros de metáforas. Mais um feriado perdido. A tarde derradeira se esvai e as palavras, preciosas e inúteis, se amontoam num caótico caderno de notas. Quem se preocupa em fazer literatura, essa dispersa filosofia, passatempo para 300 anciões? Ah, o crepúsculo usurpa nossas convicções. Os sábados inspiram uma doce autocomiseração. Mas não devemos nos abater. Há uma gota de sangue em cada palavra. A mão que escreve é pródiga em ilusões. Eu vi o mundo. Ele começa agora. No Bixiga.

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